107 - O par de chuteiras norte-americano!
107 - O par de chuteiras norte-americano!
Prof. Dr. Odalberto Domingos Casonatto
Quando minha esposa passou um ano preparando dados sobre a educação tecnológica norte americana na conclusão de seu doutorado na Universidade do Texas em Austin, “Qualidade da graduação na educação superior Tecnológica no Brasil impactos e desafios”, acompanhei recebendo um visto especial concedido pelo governo dos USA.
Assim enquanto ela ia as aulas complementares na Universidade do Texas, faculdade de Pedagogia, eu aproveitava, para estudar inglês no Austin Community College Rio Grande Campus, curso oferecido para adultos pelo Departamento Social do Texas aos imigrantes e trabalhadores Mexicanos e latino americanos, que são aos milhares no Texas.
Longas caminhadas diárias fazia pela cidade de Austin, descobrindo cada lugar, visitando as instituições e museus etc. Embora muitas vezes utilizava o ônibus da Universidade que é gratuito, precisava apresentar a carteira da Universidade, mas durante um ano nunca viu um motorista de Ônibus pedir a carteira de identidade de aluno da Universidade. Assim me incluía no grupo dos “sem teto norte-americanos” que usavam estes ônibus sem nunca serem impedidos.
Depois de alguns meses, meus calçados foram gastando e caminhar já era difícil. Passei imaginar como substituir estes calçados.
Na volta de uma aula de Inglês no “Austin Community College, Rio Grande Campus” (Este nome e dado a escola lembrando o rio ‘Rio Grande’ que tem seu curso no estado do Texas) no centro de Austin, na parada de ônibus, visualizei um par de chuteiras deixado por alguém que não tinha se adaptado em jogar futebol, ou o chamado “soccer” norte americano. O par de chuteiras estava novo, sem muito uso, resistente de couro preto sem enfeites coloridos e solado com a travas tradicionais.
Pensei com meus botões, para minhas caminhadas diárias e idas as aulas de inglês, nada vai me diminuir se uso chuteiras, tanto que resolverão meu problema de calçados.
Mas senti um problema, como vou me adaptar. Imaginava que os pés não iriam resistir. Depois pensei os jogadores usam durante uma hora e meia sem problemas, eu mesmo joguei tanta bola com chuteiras na escola durante a adolescência, porque não posso usá-las também agora. Decidi leva-las para casa. Este era o par de chuteiras norte americanas, abandonadas por alguém que imaginava um dia jogar bem Futebol.
Gostar de Futebol nos USA, é difícil, jogar seria uma tortura. Eu que sempre joguei desde criança futebol, sem muitas preocupações com as chuteiras que eram usadas até o limite pois o Pai muitas vezes não podia comprar uma nova quando um par terminava, foi uma solução divina.
Muitas vezes a noite quando o sono não vinha imaginava porque encontrei um para de chuteiras em uma parada de ônibus, do Austin Community College Rio Grande Campus, deixada por um candidato que pretendia ser jogador de futebol, mas que não se adaptou a este tipo de tortura.
Imaginava na intuição de pensamento em encontrar um calçado, foi o que ajudou a visualizar algo abandonado, sem ser visto por milhares de pessoas que utilizavam a parada de ônibus, e que tudo menos um par de chuteiras lhes interessava. Ficou ali abandonada até o momento preciso em resolver o meu problema de calçado. Será que foi Deus que teve pena de um brasileiro perdido em Austin, sem mais calçados para caminhar.
A realidade dos fatos foram estes, usei a chuteira, até nossa volta ao Brasil depois tive que coloca-la no lixo.
Cada vez que parava no terminal de ônibus da Universidade ao lado do Estádio da Universidade, “Texas Longhorns Football - Darrell K. Royal-Texas Memorial Stadium”, pensava com meus botões “só um brasileiro que jogou Futebol, durante muitos anos teria coragem de passar um ano caminhando de chuteiras pelas ruas de Austin, terra onde pouco ou nada se fala em Futebol. Os latinos vindos do México são os únicos a desafiar a cultura americana, jogando futebol em algum gramado das praças públicas.
Depois de algumas semanas, não tinha mais receio de ir a universidade de chuteiras, nos shoppings chiques de Austin, nos Museus e na Igreja que frequentava, por ser a católica estava cheia de mexicanos e alguns norte-americanos. Embora nas aparências se assemelhasse a um sapato, verdadeiramente era um par de chuteiras norte-americanas recuperadas no abandono de uma parada de Ônibus da Universidade do Texas em Austin.
Imagem do Estadio da Universidade: “Texas Longhorns Football - Darrell K. Royal-Texas Memorial Stadium”.