57 - Campanha da Fraternidade 2010 -Economia dif.
57 - Campanha da Fraternidade 2010 -Economia diferente.
Prof. Dr. Odalberto Domingos Casonatto
Neste ano de 2010, Campanha da Fraternidade (CF-2010) terá como tema “economia e vida” e o lema, “vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Promovida todos os anos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nesta ocasião, pela terceira vez na história da Campanha da Fraternidade será ela ecumênica com a participação das igrejas, que compõem o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o CONIC. A coordenação conjunta da iniciativa escolheu o tema "Economia e Vida" e o lema "Vocês não podem servira Deus e ao dinheiro", para motivar as comunidades e a sociedade no debate da temática econômica.
Fundamentos da Fraternidade
A fraternidade nos mostra que os seres humanos, no fundo, são todos irmãos, morando em um mesmo planeta e membros de uma única família humana, tendo assim dignidade e possuindo direitos fundamentais comuns. Em conseqüência a isto, a dignidade deve ser vista e reconhecida no ser humano e seus direitos fundamentais respeitados. 0 que vale para um ser humano vale para todos. Esta forma de pensar da base e sustentação a Declaração Universal dos Direitos Humanos Fundamentais.
A visão humanista cristã enfatiza que todos os seres humanos são filhos amados do mesmo Deus; e enquanto membros da família de Deus, eles devem viver e relacionar-se como irmãos, sem as barreiras que causam as diferenças de raça, nacionalidade, pensamento cultural ou condição social. Assim podemos afirmar que toda ofensa ou desrespeito ao ser humano, nosso próximo, a exclusão do acesso aos bens necessários à vida humana com dignidade, é uma ofensa a Deus. Assim que na Campanha da Fraternidade nada mudará, se não houver melhora em nossas atitudes pessoais, de convívio humano e se não mudarmos nossos critérios de valor em relação ao ter e ao ser. A Campanha da Fraternidade, realizada nos 40 dias da Quaresma se constitui como tempo privilegiado para a conversão e mudança de atitude frente à economia.
Fraternidade e atividade econômica.
O tema da Campanha da Fraternidade nos indica que a atividade econômica é o âmbito fundamental o exercício da fraternidade e seu desenvolvimento. 0 tema da campanha da Fraternidade deste ano tem inegável pertinência e atualidade. Mesmo porque estamos vivendo uma forte crise econômica mundial. Quem duvida neste momento de crise econômica mundial que é, justamente, nesse campo de relações humanas que acontecem as violações práticas, e mesmo, as negações mais flagrantes da vivência da fraternidade universal? Mas também é nestas relações econômicas mundiais que se apresentam as maiores oportunidades para vivência da fraternidade. Podemos ainda argumentar que as ameaças cada vez mais evidentes contra a conservação da vida humana e contra a vida na Terra, também estão diretamente ligadas com causas econômicas. Portanto a prevenção desses riscos depende da reorientação das atividades econômicas, decisão difícil de ser tomada, pois implica muitas vezes em abrirmos mãos de alguns critérios, quer para os comportamentos pessoais, quer para a política econômica nacional e global.
A crise financeira mundial e a fraternidade entre os povos
A recente crise financeira e econômica mundial nos mostrou o lado critico da vivência humana. Muitas pessoas perdem seguranças e bens conquistados em uma vida inteira. A crise demonstrou que a economia sem critérios éticos, ou com critérios interesseiros de grupos, não tem bases duradoras e suas conseqüências são a pobreza e o sofrimento de muitas pessoas, e povos inteiros. A atividade econômica, que está alicerçada em um objetivo supremo, que troca o suprimento das necessidades básicas do ser humano, querendo gananciosamente o lucro a qualquer preço e o acúmulo sempre maior de riquezas, produz multidões de famintos, relegados à margem da vida econômica e excluídos do bem comum.
A lógica desumana da economia mundial.
A lógica econômica que privilegia a produção e o consumo de bens supérfluos também se torna uma grave ameaça à sustentabilidade da vida no planeta Terra. O clamor mundial contra o aquecimento global, (debatido na conferencia de Copenhagen) a poluição do ar, das águas e do solo, a corrida para a posse e a exploração econômica dos recursos naturais, até a sua exaustão, deixam evidentes os riscos para o futuro da nossa casa comum. A economia sem critérios humanos globais esta gerando multidões de empobrecidos, que tentam desesperadamente migrar para regiões mais prósperas do mundo, são conseqüência da atividade econômica desenvolvida por décadas, sem a preocupação básica com a solidariedade e a justiça econômica global. Mais que em outros tempos, hoje caímos na conta de que somos todos interdependentes; nossos benefícios também devem estender-se a todos, para que os males de outros não venham a ser nossos males também.
O pensamento do papa Bento XVI sobre a economia mundial
O papa Bento XVI, em seus pronunciamentos e encíclicas vem ao encontro da temática da Economia mundial que a Campanha da Fraternidade deste ano nos propõe. Na encíclica “A Caridade na Verdade”, recordou o princípio da Doutrina Social da Igreja, que continua atual na era da globalização econômica: o progresso dos povos só será autêntico se tiver em conta o bem de todas as pessoas e da pessoa toda. Alcançaremos isso colocando em prática os critérios da justiça social, da solidariedade, e então os benefícios econômicos serão estendidos a todos. Para isto teremos que aprender a viver de maneira mais sóbria, superando certo modo predatório de conviver com o próximo e com a natureza, assimilando sempre mais a ética do cuidado: Se formos amigos da natureza, ela ainda continuará a nos sustentar por muito tempo. Os caminhos da economia não podem ficar entregues apenas à lógica do mercado, orientada pelo apetite do lucro a qualquer custo. Se isto ocorrer às conseqüências serão imprevisíveis para todos nós
A idolatria do dinheiro e a Campanha da Fraternidade
O lema da CF-2010 é uma frase de Jesus dita no Evangelho de Lucas, no qual Jesus adverte contra o apego ao dinheiro, que pode tornar-se um empecilho para acolher de coração livre e desimpedido o reino de Deus: este é o bem supremo para o ser humano. “Não podeis servir a dois senhores porque, ou odiareis a um e amareis ao outro; ou vos apegareis a um e desprezareis ao outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). O amor serviçal ao dinheiro pode-se considerar como um dos sete vícios capitais: a avareza e podem transformar-se em verdadeira idolatria, levando o homem a sacrificar tudo, até mesmo seus valores mais preciosos: os valores éticos, aos valores saúde e da própria dignidade do ser humano, para acumular bens.
Lembramos a pergunta de Jesus a todos encontrada no evangelho de Lucas 12,16-21 “Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens.”
A idolatria da busca desenfreada do dinheiro cega a pessoa e a torna insensível seu coração frente a outras realidades e sofrimentos do próximo. E também dá certa sensação de onipotência que cega a pessoa em enxergar os verdadeiros valores e faz passar por cima da Lei de Deus que deveria ser buscada pelo ser humano como um verdadeiro valor.